Caos Na Velha Senhora - Onde fica o fundo do poço?

Calcio 2008/2009. Começou conturbado, com a liderança disputada por times que dificilmente sustentam o topo da tabela por muito tempo. A tríplice italiana logo voltou a dominar a ponta: Juventus, Milan e Inter estabilizaram-se entre os três primeiros.

A Juventus não vivia uma grande fase no início dessa temporada, mas ainda assim não dava pra ver o fundo do poço. Os jogadores ainda confiavam na própria capacidade de elevar a Velha Senhora como sempre às primeiras posições. E foram duas milagrosas vitórias contra o sempre favorito Real Madrid na Champions League, e um fantástico passeio pelo Milan no Olimpico de Turim (4x2 pros donos da casa), que fizeram com que os ânimos que já estavam proeminentes se acalmassem, e que resolvessem colocar a peneira na frente do sol. Tudo sob controle. Mas, após estes feitos, que inclusive consagraram o capitão alvinegro Alessandro Del Piero como um dos melhores jogadores da Europa na temporada até então, a Juventus começou a demonstrar constante queda de produção. Placares magros, jogos apáticos, e a diretoria do clube mais glorioso do Calcio continuava se contentando com pouco, contrariando toda a filosofia da sociedade de ser não menos que a melhor.

Domingo, 18 de janeiro, Stadio Olimpico di Roma. A partida daquela tarde era Lazio x Juventus. O clube de Turim estava a apenas uma vitória de quebrar a supremacia da Internazionale de Milão na liderança do campeonato. Os donos da casa abrem o placar. Três minutos depois, o zagueiro Mellberg iguala o placar novamente. Não foi o suficiente para que a Juventus não tivesse mais uma atuação abaixo da média. A Inter se distanciava novamente na tabela.

Talvez possamos considerar esse o início da derrocada. De lá pra cá, a Juventus vem colhendo resultados fracos e vem jogando partidas apáticas, sem objetividade nem fundamento, raramente saindo do 4-4-2-feijão-com-arroz. Desde março o time não leva uma vitória pra casa. As "visitas" de jogadores quebrados ao centro de recuperação tem sido constantes, há quem afirme que nunca a Juventus sofreu tantos desfalques ao mesmo tempo. Recentemente, um desentendimento entre Trezeguet e o técnico Ranieri poderia atestar um indício da crise, mas no final ficou comprovado que foi apenas um xilique do francês mimado, que só recebeu razão de sua mãe, figura sempre presente nos jogos do bebê. Mas um novo conflito com o técnico durante o intervalo de um jogo, dessa vez da parte de Mauro Camoranesi, já tratou de escancarar o que pelo menos a torcida já sabia que estava ali presente: a Juventus Football Club de Turim abraçava uma de suas maiores crises dos últimos tempos, interna e externamente, equiparável com o escândalo do Calciopoli e o consequente rebaixamento do time à Série B do Calcio.

"Non ce la faccio più!", ou "Não aguento mais!", foi o que Buffon disse à uma das câmeras que estavam próximo ao campo, na partida contra o Lecce. E falou por quem ama e conhece a squadra bianconera. Gianni Agnelli, falecido ex-presidente da Juventus, jamais se contentou com a filosofia do "antes pouco do que nada". Para ele, só o topo interessava. Gianni Agnelli jamais traria um técnico desqualificado e nem mão-de-obra barata para o clube que orgulhosamente presidia. E inclusive, não deixaria jamais que a coisa chegasse ao ponto que já chegou, e todo mundo vem mascarando desde a temporada passada. Afinal de contas, que torcedor que acompanha a Juventus ficou convencido com aquele terceiro lugar?.

Platini, Lippi, Zidane, Baggio, Nedved... Quem está acostumado com o melhor não digere mixaria. Até a passividade da torcida na Italia é de doer. Quando tudo falha, e esperamos a atitude correta dos superiores, só o que lemos nos sites de notícias é o famoso : "Temos um projeto, Ranieri fica, bla bla bla." Projeto esse que "inteligentemente" estabeleceu como meta títulos juventinos SÓ a partir de 2011. A Juventus já esteve com a mão na liderança, nessa e na temporada passada. É uma equipe limitada, porém unida, que mostra que quando tem vontade, é capaz de superar os grandes. Mas os erros, a negligência e a falta de expectativas esgotam até quem tem a maior paciência, e o que se viu foi justamente a explosão de Gigi, aquele cara que sempre sorri, que sempre vai cumprimentar e brincar, que parece um eterno "tá tudo bem, se não tiver, vai ficar".

Somente há pouco mais de uma semana, resolveram nos dar alguma esperança quanto a saída de um dos pivôs dessa bagunça toda, o técnico Claudio Ranieri. Mas ainda temos mais algumas rodadas, então só nos resta rezar para não ficarmos de fora da próxima Champions League. Uma grande esperança foi anunciada e já está praticamente garantida: Diego Ribas, meia do Werder Bremen e da Seleção Brasileira é o mais forte candidato a substituto de Nedved que, para a tristeza da nação bianconera, anunciou sua aposentadoria para o fim dessa temporada.No mais, algumas outras especulações, um pouco mais difíceis de serem concretizadas (Xabi Alonso, Asamoah e Fabio Grosso), e o recente anúncio do retorno de Cannavaro. Fato este que não agradou nem um pouco os torcedores mais fanáticos pela Vecchia Signora, que acreditam ter sido imperdoável a transferência do zagueiro ao Real Madrid quando a Juventus mais precisava manter sua estrutura sólida, justamente no momento em que foram rebaixados à segunda divisão. E la nave va...

A bagunça se instalou no clube de Corso Galileo Ferraris, mas já aparenta dar sinais de estabilidade. Ranieri para a próxima temporada já pode ser carta fora do baralho. A diretoria está andando sobre a corda-bamba, mesmo que o candidato mais provável a assumir o posto seja Lapo Elkann, o herdeiro de Gianni Agnelli (que não só não tem NADA a ver com o avô, como já se envolveu com drogas, e das pesadas). Diego Ribas vem animado com a possibilidade de so tornar mais um ídolo da tifoseria bianconera. E só o que a torcida quer é a sua Juve de volta.

Na espera de uma resolução rápida, ansiamos não presenciar atitudes que ultimamente fizeram parte do cotidiano da Juventus, tais como negligência, falta de vontade e insistência em erros crassos. Queremos resgatar a dignidade do clube, e voltar a ser aquele dos quais os adversários pensavam em como fazer para não tomar muitos gols; hoje em dia eles sabem que podem facilmente arrancar uma vitória sobre a Juventus. É isso que os que amam a Madama querem que mude. E não seria nem uma questão de mudar: seria simplesmente voltar ao normal. Como diz o hino que a torcida sempre canta a plenos pulmões no antigo comunale: Solo chi corre può fare di te la squadra che sei!


Eu, como torcedora fanática que sou, espero que daqui pra frente, resgatem a História de Um Grande Amor que sempre tive com a Juventus, desde quando a escolhi. FORZA JUVENTUS, VINCERE È IL TUO DESTINO!

Beijos!